A FILOSOFIA, O QUE É ISSO? 

 APRESENTAÇÃO

Desta vez o Blog ganha uma resenha, ou antes, informação sobre um novo livro. Título: FILOSOFIA.  QUÉ ES ESO? Autores são os irmãos: José María y Rafael Camorlinga Alcaraz. Tentou-se uma abordagem fácil, ao alcance dos colegiais para quem o livro foi pensado. Esperamos seja útil. Na falta de outro, seja este o presente para todos vocês. Boas Festas!   

 

 

A FILOSOFIA, O QUE É ISSO?

 

La Filosofía se ocupa del ser,

la historia del suceder real, …

la literatura del suceder imaginario

(Alfonso Reyes

 

O título é justamente a pergunta que o livro se propõe a responder. Livro de bolso, de 12 x 19 cms e 266 páginas; letra de bom tamanho e acurado leiaute, “pequeno por fora e grande por dentro”.

O corpus da obra está formado por quatro capítulos que tratam das origens, desenvolvimento e abrangência da Filosofia. Os primórdios desta ciência se detectam quando cidadãos da polis grega agem de maneira estranha; Solón (s. VII) que sem ser atleta vai às Olimpíadas sem outra finalidade que a de observar o que seus semelhantes fazem, Pitágoras (s. VI) assite aos eventos que têm lugar em diversas cidades apenas para saber o que é feito, por amor ao próprio saber. Inicia assim o filein – sofia: filosofia. Temos aí o inicio do primeiro período: I – Filosofia Antiga, que passa a ser grega e romana, greco-romana. Segue o período medieval, s. V – XIV, caracterizado pelo predomínio do Cristianismo, e o terceiro período, do s. XV até a atualidade, Modernidade ou chamada também de “Posmodernidade”. A divisão e subdivisões estão bem detalhadas num esquema do cap. I. Além disso, o mesmo capítulo oferece uma antologia de textos filosóficos de todos os períodos.

       Filosofia, o que…? A pergunta persiste. O “homo sapiens” sempre foi “homo quaerens”, inquisitivo respeito da realidade que o circunda e dos fenômenos da natureza. É normal, segundo Heidegger (Salgado Martins 1973, 6), perguntar, perguntar-se por que o ser e não o nada”. Foram os gregos os primeiros a procurar resposta, à luz da própria razão, não das crenças religiosas ou mágicas. A inclinação bem como o contexto histórico, foram, dentre outros fatores, os que deflagraram o milagre grego, qual foi o voltar-se para “o mistério do ser” (Salgado M. Id, Ibid.). “Foi no momento em que o homem se formulou a si mesmo a pergunta mais intensa, mais profunda e mais extensa, aquela que foca a questão do ser primordial de todas as coisas, que a Filosofia verdadeiramente nasceu” (Id. Ibid.).

As definições da Filosofia são múltiplas, mas afins. No fundo todas elas veem a Filosofia como “o estudo de tudo aquilo que é objeto de conhecimento universal e total”. Daqui derivam duas grandes àreas, duas ciências: a Ontologia, ciência dos objetos, do SER, e ciência do conhecimento dos objetos ou Epistemologia.

Atenção especial dedica-se ao SER, suas categorias, propriedades e atributos. A Ontologia é a ciência do SER em suas diversas manifestações, de todos os seres e de suas diversas atualizações no plano da existência. A nossa atitude inquisitiva através e além da multiplicidade de seres leva-nos ao SER (maiúscula), aquele QUE É. Aqui vem em nosso auxilio a Ontologia, também chamada por Aristóteles de Philosophia Prima. O próprio buscar, às vezes bem, às vezes mal sucedido, pressupõe o raciocínio ou conhecimento. Aqui temos a Filosofia do conhecimento ou Epistemologia. Esta ciência trata do ser enquanto captado pela inteligência, lanterna sempre acessa, excetuando as poucas horas de repouso.

O contato do homo sapiens com seus semelhantes é, deve ser: inteligente, reto, correto. Aqui a Filosofia contribui com a Ética ou Moral que se ocupa do comportamento individual e social. O homo loquens utiliza-se da linguagem para comunicar-se com seus congêneres. Linguagem, poderoso instrumento de comunicação assistido pela Lógica e a serviço da Verdade. Mais um aspecto assaz importante é a sensibilidade do ser humano para apreciar o mundo no qual vive. A apreensão e valorização da beleza de todo tipo fica por conta da Estética. Mais outro ramo da Filosofia. Em suma, todas as disciplinas humanísticas contam com a Filosofia, que lhes serve de farol. Daí, por exemplo, a Filosofia da religião, Filosofia do direito, etc., etc.

O ser que dentre os entes criados merece um olhar especial antes de encerrar esta secção é o ser humano.  Já nas primeiras reflexões filosóficas é chamado “Microcosmos”, porque, não obstante sua pequenez é síntese dos elementos que compõem o universo. Também foi chamado “a medida das coisas; das que são e das que não são” (Protágoras). Aristóteles o definiu como “animal social”, levando em consideração suas características fundamentais. Tudo isso com um grande PORÉM: na Grécia da época os escravos, que eram numerosos, não eram considerados nem como seres humanos, cabendo a mesma sorte às mulheres.

       A Filosofia…, livro didático. Dois dos quatro capítulos do livro são glosados nas páginas precedentes. Os dois restantes ficam por conta dos leitores curiosos. No entanto, os autores não esquecem que o livro vem a preencher um vazio acadêmico no ensino do segundo grau na Cidade do México. Pensando nisso, no final de cada capítulo anexam-se exercícios e questionários que ajudarão os usuários. Quando o tema sugere ou é apelativo, lança-se mão de um poema, duma charada o de um texto literário. A nosso entender esses recursos, ao mesmo tempo em que quebram a monotonia da prosa contribuem para o aprendizado da matéria.

       Ensaios complementares. Finalizamos o livro com três ensaios complementares. Predomina neles o tema teológico, com viés literário no primeiro e filosófico no segundo; já no terceiro destaca-se o texto bíblico. Apresenta-se a seguir sucintamente cada um deles.

       El Dios de la razón y el Dios de la revelación. Na época em que os pensadores gregos, guiados pelas luzes da Inteligência, deduziam a existência de um “motor imóvel”, de um Ser que explicasse todos os seres sem precisar explicar-se ele mesmo, o Povo Hebreu era surpreendido com manifestações extraordinárias, verdadeiras teo-fanias, manifestações de Deus. A história do “Povo Escolhido” em seu relacionamento com Deus encontra-se na Bíblia. Surgiu então o Cristianismo, herdeiro do Judaísmo. Nos primeiros séculos da era cristã e no cenário do Império Romano encontram-se o pensamento cristão e o grego. A partir de então a filosofia grega, “cristianizada”, será usada para veicular o pensamento cristão pelo mundo conhecido e por conhecer

       El concepto de Dios em Hegel. O pensamento teológico deste filósofo alemão talvez seja o que menos se identifica com a teologia católica. Porém, isso não é razão suficiente para negar-lhe validez. Quem afirma isso é o teólogo suíço Hans Küng após criterioso estudo do texto hegeliano. Também não vamos exigir que esse texto “teo-filosófico” seja um dos primeiros lidos pelos netos e sobrinhos netos a quem o livro é dedicado. Queremos, outrossim,  imaginá-los lendo algum dia as conclusões, tiradas da Fenomenología del Espíritu de Hegel e reproduzidas na página 260 do nosso livro: el ser humano sólo se encuentra a si mismo cuando se encuentra con sus cualidades que llamamos “divinas”.

       El ser humano en la Filosofía partiendo de El Génesis. É, sem dúvida, a primeira vez que essa aproximação é feita. Para isso é indispensável o conhecimento tanto da Filosofia quanto da Bíblia. Após se debruçar sobre a exegese dos três primeiros capítulos do Genesis e em posse de um avultado curriculum filosófico, o ensaísta pergunta: Será o ser humano (h/m) o pecado original da criação? (pág. 243). Como é bem sabido, os primeiros capítulos da Bíblia são sobre a criação do mundo, formação do primeiro casal, vida no paraíso, etc. Em Gn 2, 16-18 encontra-se a proibição; no cap. 3, a proibição e a queda. Eles, Adão e Eva, estão proibidos de comer da arvore do bem e do mal. No entanto, para ser h/m têm que distinguir o bem do mal, logicamente têm que comer o fruto proibido. Só mediante esse pecado (original) torna-se o homem, homem. Daí a conclusão espantosa: O pecado original da criação é o ser humano. “Eis que o homem tornou-se como um de nós, pelo conhecimento do bem e do mal” (Gn 3, 22). Aqui temos a resposta à pergunta acima. Seguem mais duas conclusões não menos assustadoras: o maior inimigo da natureza é o ser humano. Provas? O ensaio apresenta com fartura; e o maior inimigo do ser humano é próprio o ser humano (homo homini lúpus).

O ensaio e o livro terminam ponderando a grandeza e a miséria do ser humano, decorrentes da sua capacidade de escolha. Pulando do primeiro livro da Bíblia para um dos últimos, o Apóstolo João convida: Queridos, amemos uns aos outros, porque o amor é de Deus, … porque Deus é amor” (Jn 4, 7-8).

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